Todos os organismos vivos estão sob constante influência do meio ambiente. No caso da maioria absoluta das plantas terrestres, parte delas encontra-se envolta pelo ar e outra parte pelo solo.
A parte aérea das plantas está exposta a vários fatores climáticos, como radiação, temperatura, umidade, água, entre outros. Por outro lado, as raízes deparam-se com um ambiente constituído por partículas orgânicas e inorgânicas de diferentes tamanhos e pequenos espaços preenchidos por ar e por uma solução líquida, de onde a planta tem acesso a água, nutrientes, gases e onde ocorre o contato com microrganismos. Ao estudo da interrelação entre esses meios e a planta, sob o ponto de vista morfofisiológico e bioquímico, dá-se o nome de ecofisiologia.
Quando não ocorre uma perfeita harmonia entre os fatores climáticos e a ecofisiologia da planta, dá-se inicio a processos que interferem acentuadamente em seu metabolismo, podendo ocasionar, entre outros, alterações no crescimento e ou desenvolvimento, e em condições extremas, levar as plantas à senescência. Esses processos são denominados “estresses”.
O conhecimento do comportamento ecofisiológico de uma espécie de interesse econômico possibilita o planejamento de sua implantação, expondo a planta às condições ambientais mais favoráveis, aumentando a expressão de seu potencial genético.
São inúmeras as espécies cultivadas no Brasil. A grande maioria é destinada à alimentação humana e animal, enquanto outras fornecem produtos utilizados indiretamente, como o algodoeiro (Gossypum hirsutum), o qual produz fibras para confecção de roupas e para outros fins. Outra forma de utilização refere-se ao emprego de espécies específicas que proporcionam a melhoria do ambiente, de maneira eficiente e em nível significativo. Ao grupo de espécies que melhoram as características físico-químicas e biológicas do solo, dá-se o nome de adubos verdes.
A adubação verde possibilita a recuperação da fertilidade do solo, proporcionando: o aumento do teor de matéria orgânica, da capacidade de troca catiônica e da disponibilidade de micronutrientes; formação e estabilização de agregados; melhoria das condições para infiltração de água e aeração; diminuição da amplitude de variação térmica; controle de nematóides e fornecimento de nitrogênio obtido da fixação biológica (IGUE, 1984), sendo este processo de extrema importância e complexidade (gênica, fisiológica e bioquímica).
Poucos foram os trabalhos realizados relacionados à ecofisiologia das diferentes espécies vegetais utilizadas como adubo verde. Quando existentes, as informações são escassas, se comparadas a culturas tradicionais, como a soja (Glycine max) e o milho (Zea mays).
O objetivo deste trabalho é proporcionar aos leitores inicialmente uma rápida revisão sobre os conhecimentos referentes à ecofisiologia, as interações dos fatores edafoclimáticos com as plantas, a ação dos diferentes “agentes estressantes” sobre a planta, e posteriormente, uma discussão mais aprofundada da ecofisiologia dos adubos verdes, de maneira geral e específica para as principais espécies.
Em função de sua grande extensão territorial, o Brasil possui uma enorme diversidade edafoclimática, sendo variável entre regiões ou até mesmo entre áreas geograficamente próximas, em função da altitude. O intuito deste volume não é abordar o comportamento das diferentes espécies de adubo verde para cada condição edafoclimática encontrada no país, haja vista a falta de informações e as especificidades de cada local. Assim, procurou-se abordar as informações mais relevantes sobre as principais espécies, além de informar as características geográficas (latitude, longitude, altitude), tipo de clima e classe de solo dos locais onde experimentos foram realizados, possibilitando a transposição dos resultados gerados para locais com características semelhantes, bem como a utilização das informações de modo a inferir sobre a viabilidade de utilização racional de determinada espécie para cada condição edafoclimática.
Desta maneira, caberá aos leitores deste texto seguir ou adaptar as informações aqui citadas de acordo com as características pertinentes ao local de interesse dos mesmos.